A IMPORTÂNCIA DOS RIOS PARA AS CIDADES
Há cerca de dez mil anos, as populações humanas começaram se estabelecer em assentamentos permanentes pela primeira vez. Nesse período, conhecido como Revolução Agrícola ou Revolução Neolítica, o desenvolvimento da agricultura e a domesticação de animais permitiu que grupos humanos abandonassem o nomadismo e se fixassem de forma mais perene, criando as aldeias que antecederam as atuais cidades. Os levantamentos arqueológicos sobre esses assentamentos não deixam dúvida: havia poucos locais tão vantajosos para uma aldeia quanto as margens dos rios.
Diversas razões contribuíam para isso. Os rios são fonte de água doce e de alimentos para consumo humano e animal. Além disso, a construção de canais a partir dos rios permitiu a irrigação de áreas cultivadas. Quando a concentração de pessoas nas primeiras cidades se tornou mais alta, os rios também serviram como base para redes de esgoto. Por fim, os rios que conectavam cidades e regiões serviram como canal de transporte de pessoas e mercadorias, facilitando a criação de redes de comércio.
Mais recentemente, os rios tiveram papel importante na industrialização – primeiro com as máquinas a vapor e, a partir do fim do século XIX, com a energia gerada em usinas hidrelétricas. A água doce dos rios é usada em diversos processos industriais: na limpeza e resfriamento das máquinas e nas etapas intermediárias da produção, sobretudo nos setores de alimentação e de petroquímica.
Contudo, a intensificação das atividades econômicas e o aumento da população urbana fez com que a pressão ambiental sobre os rios das cidades crescesse muito. No século XX, viu-se a poluição das águas urbanas atingir um ponto crítico, com os rios recebendo diariamente toneladas de lixo, esgoto doméstico e industrial e eflúvios tóxicos da produção agropecuária. Em muitas cidades grandes, os rios urbanos se tornaram elementos desagradáveis da paisagem, malcheirosos, sujos e sem vida. Foi a gravidade dessa situação que levou os cidadãos a repensarem, finalmente, sua relação com os rios.
A partir das últimas décadas do século XX, diversas cidades da Europa, América do Norte e Ásia começaram, cada uma à sua maneira, processos de recuperação ambiental e paisagística dos rios urbanos. Além da preocupação ecológica, outra motivação importante foi a forte demanda por espaços urbanos de fruição. Em vários centros urbanos, as margens dos rios voltaram a ser percebidas como áreas que poderiam ser liberadas para o uso dos cidadãos, espaços públicos com grande qualidade natural e paisagística. Cidades como Nova Iorque, Londres, Madri e Seul conseguiram reverter tanto a intensa poluição das águas quanto a ocupação das margens que impedia a aproximação das pessoas.
As cidades brasileiras também possuem esse potencial de recuperação dos rios urbanos. Mas, para que essa grande mudança aconteça, é preciso conscientizar a população sobre a importância da preservação do meio ambiente e ressaltar o valor da criação de mais espaços de convivência nas cidades. Para que volte a haver vida nas águas urbanas do Brasil, é preciso que cidadãos, empresas e indústrias se responsabilizem mais pelo descarte de seu lixo e seu esgoto, e que as prefeituras considerem os rios não apenas como parte da rede de esgoto, mas também como espaços públicos com grande potencial para melhorar a vida nas cidades.